Resgate histórico das famílias romenas: Müller

RESGATE HISTÓRICO DAS FAMÍLIAS ROMENAS: MÜLLER
JOHANES MÜLLER E KLARA WINTER MÜLLER
DA BESSARABIA – ROMÊNIA AO BRASIL
UMA HISTÓRIA REPLETA DE EMOÇÕES, ALEGRIAS E DIFICULDADES
Esta é a história dos meus avós paternos.
Johanes Muller nasceu na comunidade (Dorf) Krasna, Bessarabia, Romênia, em 31 de agosto de 1895. Seus pais eram Josef J. Muller e Amália Hein.
Klara Winter Muller, igualmente nasceu em Krasna Bessarabia Romênia, em 20 de novembro de 1898. Seus pais eram Philipp Winter e Emília Volk. Ambas as famílias eram do credo Católico.
O casamento de Johanes e Klara realizou-se em 10 de fevereiro de 1919, na igreja Católica Sto. Josif em Krasna, onde também fora realizado o batismo de ambos.
A VIDA EM KRASNA
Ambas as famílias, Muller e Winter, em Krasna, desenvolviam as atividades na agricultura. Cultivando o solo fértil, plantando e colhendo os produtos para a sua própria sobrevivência. Dentre as culturas, desde as de maior porte, como de trigo e milho, também a fruticultura e a horticultura, bem como o cuidado com os animais necessários para o trabalho como cavalos e vaca de leite. As dificuldades enfrentadas se baseavam principalmente em torno das intempéries próprias da região: invernos rigorosos, verões com muito calor e secos, muitas tempestades com granizo, invasão de insetos na lavoura…enfim, uma vida com muitos sacrifícios.
As crianças, desde muito cedo acompanhavam os afazeres da casa e da propriedade, estando sempre participando de tudo o que acontecia. Por esta razão, adquiriram os conhecimentos básicos que envolvem a agricultura e assim os trouxeram na bagagem intelectual e, consequentemente, instalaram e os adequaram na nova pátria, cujos legados em grandes proporções, atualmente ainda seguidos por seus descendentes.
A vida social e comunitária fora também um compromisso ético, moral e religioso de cada família a seguir e participar assiduamente.
A VIDA DE JOHANES E KLARA
Johanes e Klara passaram sua infância, adolescência e juventude em Krasna.
Desde a tenra idade, auxiliavam seus pais nas atividades domésticas aprendendo a cultivar a terra, os afazeres de casa e brincando na rua em frente à casa.
No caso da avó Klara, ainda muito pequena, já aprendia as artes da culinária, preparando os alimentos para conservar por meses de neve, que não havia possibilidades de cultivar. Além disso, praticava artesanato com lã de ovelha, inicialmente, preparando a lã e em seguida tricotando peças de roupa para enfrentar o intenso frio. Aqui vale destacar que a avó Klara, por muitos anos tricotava com 5 agulhas as meias e luvas para os filhos e para os primeiros netos. Em idade escolar, Klara também ia a escola feminina de Krasna, pelo menos por um certo período, na mesma escola, na qual, mais tarde estudavam também as filhas Ida e Adelina.
O avô Johanes, junto com seus pais e irmãos se dedicavam ao cultivo da terra. Igualmente ele estudou, porém na escola frequentada por meninos, cuja escola, mais tarde frequentada por seus filhos Josif (José) e Gheorg (Jorge).
Assim que entrou na adolescência, com 13 anos de idade, participou de uma comemoração, um ritual, que era plantar uma árvore de Pentecostes (Pfinstenbaum). Nesta atividade da cavação e plantação ficou gravemente ferido, atingindo severamente o seu pulmão, cujas consequências o acompanharam durante toda a sua vida e por não existirem recursos aperfeiçoados para a sua recuperação, provavelmente levaram sua vida, prematuramente aqui no Brasil.
Após este acidente, ele não pode mais auxiliar nos trabalhos pesados da lavoura, motivo pelo qual seu tio Padre Josef Hein, que trabalhava em uma comunidade católica na Ucrânia, levou Johanes e matriculou-o numa escola considerada na época, de Ensino Superior, onde aprendeu o ofício de Contabilidade (BUCHHALTER). Ainda na Ucrânia, enquanto estudava, auxiliava seu tio Padre nas atividades religiosas e comunitárias e nas horas vagas se ocupava com o aprendizado de marceneiro.
Johanes retornou para sua terra natal Krasna somente depois de ter prestado o Serviço Militar. Em Krasna foi admirado por todos por sua formação e dedicação aos estudos. Imediatamente iniciou seus trabalhos como Contador numa Cooperativa, a qual tinha a sua atuação comercial em toda a região agrícola da Bessarabia. Em Krasna conheceu a jovem Klara, e após um ano de namoro realizou-se o casamento e fixaram residência na propriedade de sua mãe Emília Volk.
A IMIGRAÇÃO: BESSARABIA/ROMENIA AO BRASIL
Enfrentando várias dificuldades na Bessarábia, principalmente financeiras e sem perspectivas de um futuro melhor, Johanes e Klara se integraram as grandes levas de famílias da Bessarabia e imigraram para a América do Sul, Brasil. Na época, o casal já tinha 6 filhos, um falecido na Bessarabia. Segundo informações passadas para os descendentes, que esta decisão fora extremamente dura e triste, principalmente para o avô Johanes que já estava com sua saúde debilitada.
No entanto, a longa viagem aconteceu. O embarque no navio Madrid no Porto de Bremen na Alemanha, segundo registros do passaporte número 54.556, aconteceu em 13 de julho de 1929 e seu desembarque assinado pela Polícia Marítima e Aérea de Santos em São Paulo, em 05 de agosto de 1929. A família inscrita no passaporte e na Certidão de Desembarque é a seguinte: Johanes (esposo) com 35 anos, Klara (esposa) com 31 anos, filhos: José com 10 anos, Jorge com 08 anos, Ida com 06 anos, Adelina com 02 anos e Nicodemus com 06 meses.
Chegando em São Paulo o dinheiro da família havia acabado. Sem lar, sem teto, sem nada, com 05 filhos no Porto de Santos. Esta era a realidade de todas as famílias.
Imediatamente conseguiram seguir viagem com um fazendeiro, que já estava os aguardando para prestar serviços nos cafezais da fazenda Monte Bela em São Paulo. Ali a família prestou serviços por um período aproximado de 02 anos. Neste período nasceu a sétima filha do casal, a Catarina, que infelizmente veio a óbito.
A MIGRAÇÃO PARA O SUL DO BRASIL
Em busca de novas perspectivas de vida, de religiosidade e educação, a família enfrentou mais uma vez uma difícil viagem. Embarcaram no trem rumo a Santa Maria no Rio Grande do Sul, posteriormente com um pequeno caminhãozinho até Porto Feliz (Mondaí), onde já havia se instalado, da Bessarabia, um primo da avó, Korbinian Winter. Em Porto Feliz foram residir no interior na comunidade de linha Mondaizinho, como inquilinos na propriedade da família Weiss. A avó Klara com as crianças menores trabalhavam na agricultura e afazeres em volta de casa e o avô já com a ajuda do filho mais velho o José, prestavam serviços na abertura de estradas entre Porto Feliz e Porto Novo.
Tão logo que a família conseguiu reunir um certo valor em dinheiro, foi comprada um lote de terra em linha Ipê Popi, onde passaram a residir definitivamente. A mesma propriedade até hoje está no poder da família Muller. Inicialmente fora do avô Johanes, seguido pelo filho Nicodemus, meu pai e, atualmente meu irmão, Valmei Muller. Nesta propriedade nasci e me criei, assim como meus 12 irmãos. Ali foi o nosso lar.
A FAMÍLIA DE JOHANES E KLARA MULLER
A família, fixada residência definitiva em Ipê Popi, integrou-se na comunidade intensamente em todos os setores. Os filhos, até que enfim puderam ir novamente a escola, a família frequentar a Igreja Católica, enfim colaboraram em todas as atividades sociais, culturais e educacionais da comunidade. Registro especial: a avó Klara era uma eximia cantora, uma voz formidável. Então a cantoria na família fora a base da alegria e da tristeza no enfrentamento das dificuldades, cuja cultura transcendeu.
Com a saúde muito abalada, o avô Johanes, chegou a óbito muito cedo, deixando a avó com os filhos em pleno início de desenvolvimento na propriedade. Johanes faleceu em 12 de maio de 1940, em sua residência, atingindo apenas 45 anos de idade. A avó Klara viveu com os filhos até a idade de 82 anos. Faleceu em 24 de abril de 1980 no hospital Sagrada Família em Itapiranga. Ambos estão sepultados no cemitério de linha Popi.
OS FILHOS
Johanes e Klara constituíram a seguinte família:
1. José casado com a imigrante romena Ottilia Becker (ambos in memoriam);
2. Jorge casado com a imigrante romena Clementina Kunz (ambos um memoriam);
3. Ida casada com Adolfo Welter (ambos in memoriam);
4. Adelina casada com o imigrante romeno Melchior Wagner (ambos in memoriam);
5. Nicodemus casado com a imigrante romena Rufina Kunz;
6. Pedro casado com Germana Pauli (ambos in memoriam);
7. Izidoro casado com Odete Kist;
8. Elma casada com Aloisio Wagner (ambos in memoriam).
Atualmente estão vivos apenas dois filhos: Nicodemus e Izidoro, juntamente com um grande numero de netos, bisnetos e tataranetos.
GRATIDÃO
Gratidão a Deus pela vida dos avós e por todos os ensinamentos que nos deixaram. Gratidão aos meus pais e tios pela preservação e compartilhamento da história da família. Gratidão a todos os descendentes primos da primeira, segunda, terceira…gerações que se envolvem nesta história. Gratidão ao primo Marino Muller em compartilhar fotos e informações para que esta história fosse registrada.
Enfim… a história segue!!!
Texto: FLORENTINA MULLER GRUHLKE.